quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Não é uma questão de não saber ler

Quando eu pergunto uma coisa, não quero saber qual é a norma, quero saber a sua opinião.

sábado, 15 de janeiro de 2011

No caminho - Parte 3: Quando a menina foi apresentada ao Uzbequistão

A menina não precisou ir até o Uzbequistão. Ninguém precisa ir a Paris para conhecer o Louvre, ou a Barcelon pra conhecer as obras de Gaudí, a Londres conhecer o Big Ben ou a Nova York pra ver a estátua da Liberdade. Geralmente, as pessoas viajam para esses lugares só pra ver de novo o que já viram em fotos e postais, ou pra confirmar algumas outras coisas sobre as quais já ouviram falar.

Mas, com o Uzbequistão foi diferente. A maioria das pessoas precisaria efetivamente ir ao Uzbequistão pra saber alguma coisa de lá.  Ou talvez procurar no Google. Porque do Uzbequistão a gente nunca viu foto, a gente mal ouviu falar. E a maior parte da gente não conhece ninguém que já foi até lá. 

Parece só uma terra muito, muito distante, onde tudo deve ser bem diferente daqui. E, lendo uma entrevista, a menina descobriu que nem a Glória Maria conhece o Uzbequistão. Ou seja, nunca passou nada sobre esse lugar no Fantástico.

Mas, essa menina tem amigos viajados. E foi de uma grande amiga (dessas que é fácil saber que é pra vida toda) que ela foi ouvindo histórias de uma economia não estabilizada, onde todo mundo parece ter muito dinheiro, mas na verdade, todo mundo tem muito dinheiro que vale muito pouco. E descobriu que não, não é em todo lugar do mundo que você vai achar muitas maquininhas de cartão de crédito e ficar tranquila com aquele quadradinho de plástico que a gente, mal acostumada, sempre leva na carteira, como se fosse a solução pra tudo.

E ouviu histórias ainda mais legais de grandes imperadores, maiores que Alexandre, o Grande (que, não neguemos, tem sua parcela de inspiração para este blog). Enfim, imperadores muito importantes para aquela gente e que a gente do ocidente, inocentemente, nunca ouviu falar.

E seu chão se abriu. A menina novamente se tocou e ficou pensando que a internet faz o mundo parecer pequeno, mas que ele continua grande e que a história toda que se estuda e da qual mais se sabe é, simplesmente, restrita demais.

Ela ficou pensando nas religiões diferentes que existem por lá e descobriu que é no Uzbequistão que está o túmulo de Jó. Foi quando se tocou que, além de que os escravos desse homem jogavam caxangá, ela não sabia mais nada sobre ele.


Curiosa, descobriu que Jó é uma figura do antigo testamento, um cara que tinha tudo, e amava a Deus sobre todas as coisas. Um dia Jó perdeu tudo, e continuou bendizendo o nome do senhor. E continuou perdendo tudo e continuou bendizendo o nome do senhor. Aí, a menina acabou entendendo também o porquê da expressão "paciência de Jó".

A apresentação do Uzbequistão não levou a menina só a saber um pouquinho mais sobre o Uzbequistão. Ela pensou nos outros "istãos" sobre os quais ela não sabe quase nada, e sobre tantos lugares distantes, com vidas, e políticas,  e economias, e crenças, e danças, e cantos, e jeitos e verdades tão diferentes, sobre os quais nada, ou muito pouco ela sabe.

E a menina sentiu-se feliz, por ter relembrado o tamanho da sua ignorância e abriu seu coração, pensando que, se o mundo é tão grande, nele ainda cabem muitas coisas novas pra ela imaginar!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

No caminho - Parte 2 : A menina resolve refletir sobre o amor

A menina decidiu não pensar muito mais sobre o assunto. 

Porque amor não é teoria, amor é prática.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Por um céu de preás

"Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.”
(Graciliano Ramos - Vidas Secas)
Ao Lippe, o cachorro mais perto de meu que já tive. Para que encontre seu céu de preás, com uma Paty, uma Aninha e um Dudu bem grandes, enormes, pra brincar.

Pisca-pisca

“A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama. Pisca e anda. Pisca e brinca. Pisca e estuda. Pisca e ama. Pisca e cria filhos. Pisca e geme os reumatismos. Por fim, pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre – perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?”
(Monteiro Lobato em Memórias de Emília)

É ruim receber notícia triste logo assim no começo do ano. E ontem foi assim: triste. Porque o que a gente espera é que todo mundo só pare de piscar depois de piscar e gemer os reumatismos... 


Mas, não. Estava faltando alguém ali. Alguém que não tinha tido osteoporose ainda. O que organizava o futebol. O que chamava todo mundo pro churrasco.
 
E não tinha ninguém para contar melhor o que tinha acontecido. Todos buscaram notícias. Todos queriam entender. Todos criavam hipóteses, sabendo que seriam sempre só hipóteses. E estava difícil acreditar.
 
Ar pesado, coração doído, o dia foi passando e a cadeira continuava mesmo vazia. Era isso: dormiu e não acordou mais.
 
É pra pensar na vida. É pra fazer acreditar que existe algo além.  E a nós, só resta rezar, pedindo pra estar tudo bem.

sábado, 1 de janeiro de 2011

"Pois a verdade é que tudo se renova: bossa velha fica nova, o que eu acho muito bem. Só não renova quem já está com o pé na cova, quem não cria e não desova, quem não gosta de ninguém."
(Toadinha de Ano Novo - Vinícius de Moraes)