terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Pisca-pisca

“A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama. Pisca e anda. Pisca e brinca. Pisca e estuda. Pisca e ama. Pisca e cria filhos. Pisca e geme os reumatismos. Por fim, pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre – perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?”
(Monteiro Lobato em Memórias de Emília)

É ruim receber notícia triste logo assim no começo do ano. E ontem foi assim: triste. Porque o que a gente espera é que todo mundo só pare de piscar depois de piscar e gemer os reumatismos... 


Mas, não. Estava faltando alguém ali. Alguém que não tinha tido osteoporose ainda. O que organizava o futebol. O que chamava todo mundo pro churrasco.
 
E não tinha ninguém para contar melhor o que tinha acontecido. Todos buscaram notícias. Todos queriam entender. Todos criavam hipóteses, sabendo que seriam sempre só hipóteses. E estava difícil acreditar.
 
Ar pesado, coração doído, o dia foi passando e a cadeira continuava mesmo vazia. Era isso: dormiu e não acordou mais.
 
É pra pensar na vida. É pra fazer acreditar que existe algo além.  E a nós, só resta rezar, pedindo pra estar tudo bem.

Um comentário:

  1. “A morte não é tudo. Não é o final. Eu apenas passei para a sala seguinte. Nada aconteceu. Tudo permanece exatamente como foi. Eu sou eu, você é você, e a antiga vida que vivemos tão maravilhosamente juntos permanece intocada, imutável. O que quer que tenhamos sido um para o outro, ainda somos. Chame-me pelo antigo apelido familiar. Fale de mim da maneira que sempre fez. Não mude o tom. Não use nenhum ar solene ou de dor. Ria como sempre fizemos das piadas que desfrutamos juntos. Brinque, sorria, pense em mim, reze por mim. Deixe que o meu nome seja uma palavra comum em casa, como foi. Faça com que seja falado sem esforço, sem fantasma ou sombra. A vida continua a ter o significado que sempre teve. Existe uma continuidade absoluta e inquebrável. O que é esta morte senão um acidente desprezível? Porque ficarei esquecido se estiver fora do alcance da visão? Estou simplesmente à sua espera, como num intervalo, bem próximo, na outra esquina. Está tudo bem!” A vida nos deixa grandes lacunas, ela sim é a responsável... por isso devemos nos lembrar de como era a vida e como essa pessoa foi importante para nós, lágrimas e dor também fazem parte, mas a alegria de ter convivido é sempre maior...

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