Meu avô Mauro é a pessoa mais docemente rabugenta que eu conheço. Ele não gosta que a gente pergunte se ele está bem porque, menina, gente velha nunca está bem. Está sempre cheia de dor aqui e acolá e se disser que está bem, eu já lhe conto um segredo, além de velha é uma pessoa pra lá de mentirosa.
Meu Vô não pega na mão de homem. Sabe como é, né, sei lá por onde essa mão já passou. Se eu pegar na mão de um homem vou ter que pegar na mão de no mínimo dez mulheres para compensar.
Também não gosta muito de comemorar aniversário. Ah, pra quê essa algazarra toda, uma barulheira, uma confusão, sem motivo...
Só que o Vovô Mauro não perde o aniversário da gente. Sábado ele podia estar cansado, com fome e com frio, mas ele estava lá. O almoço demorou a sair, mas ele se contentou com os tira-gostos e, mesmo precisando de um cobertor nas costas, ficou firme marcando presença.
Uma vez, ele me disse assim: Filho a gente educa, neto a gente mima. Já eduquei seu pai, agora chegou minha vez de mimar!
E quando a gente ia passar férias na praia com ele, o Vovô Mauro deixava a gente comer pastel frito no café-da-manhã. E por a gente fazer muito barulho à tarde na casa sem forro, perto do quarto onde ele tirava a soneca de depois do almoço, ele acabou construindo um quarto pra ele do lado de fora e deixou a casa pra gente brincar. Podia fazer cabaninha no quintal e, quando meu primo subiu em uma árvore que eu não conseguia acompanhar, ele arrumou os toquinhos de madeira e pregou no tronco da árvore, pra me ajudar a escalar.
Quando minha casa estava pintando e eu passei uma semana na casa dele, ele me dava o pão com manteiga de manhã, fazia um café com leite bem gostoso e me levava pro carro, onde ligava o ar quentinho, pra eu não sentir frio até o meu pai chegar pra me buscar.
E foi ele mesmo que me ensinou uma das coisas mais importantes que já aprendi na vida até hoje, quando chegou rindo de uma frase que tinha lido num pára-choque de caminhão: "Falar de mim é fácil, difícil é ser eu!". Depois que todo mundo riu, ele ficou bem sério levantou o dedo e disse : "Isso é uma das maiores verdades que eu já li."
Mais importante ainda, foi com ele que eu aprendi e reaprendo, a cada dia, que não importam as palavras, são as atitudes que mostram quem realmente somos.
E é por essas e outras que depois de fazer a lista de algumas das coisas que já aprendi, eu resolvi escrever tudo isso, só pra agradecer ao vovô Mauro todas as coisas que ele me ensinou!
Muito bonita a homenagem.
ResponderExcluirComo é bom ser mimada pelo vô !!! Aproveite sempre.... Beijos Dani
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